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No Brasil, 76% dos terreiros afro-brasileiros sofrem algum tipo de violência, sendo 80% deles vítimas de racismo religioso, que inclui agressões verbais, ataques físicos, depredações e discriminação policial. Essas informações provêm da pesquisa \”Respeite Meu Terreiro\”, realizada com respostas de religiosos de 511 terreiros, que mapeou a violência e o racismo religioso enfrentados pelas comunidades de matriz africana.
Este fenômeno não é novo no país. A discriminação religiosa tem raízes profundas, fundamentadas no preconceito contra as religiões afro-brasileiras, que são historicamente marginalizadas desde o período da escravidão. O crescimento das igrejas evangélicas, em particular, tem contribuído para um ambiente de hostilidade, em que campanhas orquestradas contra terreiros são frequentemente observadas. Essas ações, muitas vezes associadas a milícias e ao narcotráfico, promovem discursos de ódio e atos de agressão.
O racismo religioso se manifesta, também, no ambiente dos meios digitais. Cerca de 52% dos terreiros relatam ter sofrido ataques, assédios e discriminação em plataformas como Facebook, Instagram, YouTube, TikTok e X. Essa situação revela a extensão da intolerância que se perpetua na sociedade, afetando especialmente os praticantes de religiões de matriz africana.
As consequências dessa violência são alarmantes. Além dos danos físicos, as agressões geram impactos significativos na saúde emocional e mental dos membros dessas comunidades. A perpetuação do racismo estrutural e das desigualdades sociais é um efeito colateral dessa violência, que mantém o ciclo de invisibilidade e exclusão das práticas religiosas afro-brasileiras.
Um dos principais obstáculos para a proteção das comunidades é a dificuldade de acesso à justiça. Menos de 30% dos casos de violência são registrados oficialmente em boletins de ocorrência, o que dificulta a responsabilização dos agressores e a implementação de medidas preventivas eficazes. A situação exige a criação e execução de políticas públicas que possam garantir a segurança e o respeito às práticas religiosas afro-brasileiras.
Recentes estatísticas revelam a gravidade da situação: 76% dos terreiros foram alvo de violência, com 74% relatando ameaças ou destruição de seus espaços sagrados. Adicionalmente, apenas 26% conseguiram registrar boletins de ocorrência, mostrando a resistência em buscar apoio legal. As agressões não se limitam a cidadãos comuns; cerca de 59% dos agressores identificados são pessoas associadas a instituições religiosas evangélicas, enquanto 10% são servidores públicos e 8% são vizinhos de terreiros.
Além disso, a intolerância religiosa está em crescimento no Brasil, com um aumento de 66,8% nas denúncias de violações de liberdade de crença entre 2023 e 2024, afetando principalmente as religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé. Esta escalada na violência destaca a necessidade urgente de um diálogo sério e consistente sobre o respeito à diversidade religiosa no país.
Em resposta a essa crise, o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC), juntamente com instituições como a Rede Nacional de Religiões Afro-brasileiras e Saúde (Renafro), está coordenando esforços para enfrentar o racismo religioso através de estudos como o “Respeite Meu Terreiro”. O objetivo é apoiar a formulação de políticas públicas eficazes e orientar a proteção das comunidades de matriz africana.
As iniciativas incluem investimentos previstos superiores a R$ 94 milhões, voltados para a valorização das tradições e a proteção dos terreiros. Projetos locais, como o \”Espaço Sagrado, Espaço Protegido\” em Belo Horizonte, utilizam estratégias inovadoras como a sinalização beacons para intimidar agressores e já mostram resultados positivos, com uma redução significativa nas denúncias.
Esses dados revelam um quadro grave de racismo religioso e violência contra terreiros no Brasil, reforçando a urgência de ações integradas entre a sociedade civil, o Estado e os órgãos de justiça. Somente com um esforço coletivo e comprometido será possível garantir o direito à liberdade religiosa e a segurança dessas importantes comunidades afro-brasileiras.