
Pesquisadores do projeto Primatas Perdidos registraram pela primeira vez no mundo um sauá albino (Callicebus nigrifrons) no Parque Estadual do Rio Doce, em Minas Gerais. Este é um achado extraordinário, já que casos de albinismo em primatas neotropicais são extremamente raros, e não havia registros anteriores para a família à qual o sauá pertence, que é composta por 63 espécies.
O avistamento foi feito por meio de drones equipados com câmeras durante um levantamento populacional da equipe. A bióloga Vanessa Guimarães, uma das fundadoras do projeto, descreve o momento da descoberta: \”A câmera termal detectou o calor de alguns animais, e quando passamos para a câmera colorida, vimos um indivíduo completamente branco\”. Ela relata que a experiência foi surpreendente, comparando-a a \”encontrar uma agulha no palheiro\”.
O animal albino foi encontrado acompanhado de outros dois indivíduos de coloração normal. Um aspecto particularmente interessante é que o sauá albino parecia totalmente integrado ao grupo, comportamento natural e tranquilo, o que contrasta com casos típicos nos quais animais albinos são frequentemente rejeitados ou atacados por seus pares.
O registro ocorreu na maior mancha contínua de Mata Atlântica em Minas Gerais e uma das últimas em bom estado de conservação no país. O Parque Estadual do Rio Doce, criado em 1944, protege cerca de 36 mil hectares de floresta e abriga centenas de espécies de aves, répteis e mamíferos, incluindo cinco espécies de primatas, três delas ameaçadas de extinção.
Este primeiro registro de um sauá albino acende um alerta sobre o isolamento e degradação ambiental na Mata Atlântica, revelando impactos do isolamento populacional nesta região. A descoberta enfatiza a importância da conservação do habitat natural destes primatas, que enfrentam ameaças como desmatamento e fragmentação de seus ambientes.
Os sauás desempenham um papel crucial no ecossistema da Mata Atlântica, contribuindo para a dispersão de sementes e a manutenção da biodiversidade local. A presença de um sauá albino pode, assim, servir como um indicador da saúde do ecossistema e da necessidade de intervenções para proteger as áreas ainda preservadas.
A descoberta não só gera interesse entre ecologistas e biólogos, mas também levanta questões sobre o impacto das mudanças climáticas e da atividade humana na fauna local. O albinismo, que resulta de uma mutação genética, pode ser um efeito secundário do estresse populacional que acompanha a redução de habitats e o aumento da pressão humana sobre a natureza.
Consequentemente, é fundamental que as políticas de conservação sejam atualizadas e adequadas a essa nova realidade, contemplando não apenas práticas de preservação, mas também estratégias para restaurar e conectar áreas fragmentadas da Mata Atlântica, permitindo que espécies como o sauá albino possam prosperar em um ambiente saudável.
Em suma, o registro do sauá albino na Mata Atlântica simboliza uma oportunidade para refletir sobre as condições ambientais da região. A pesquisa contínua e o monitoramento das espécies são essenciais para proteger a rica biodiversidade e garantir um futuro sustentável para a Mata Atlântica e suas numerosas espécies, respeitando o ciclo natural de vida que mantém o equilíbrio deste ecossistema único.