
Guilherme Boulos, ministro da Secretaria-Geral da Presidência no governo Lula, está focando em atrair e dialogar com os motoboys, um grupo de trabalhadores de aplicativos que, em São Paulo, foi popularizado politicamente pelo influenciador Pablo Marçal, ligado à direita. Boulos busca formar um grupo de trabalho para discutir políticas públicas específicas para essa categoria, como piso salarial e transparência nos algoritmos das plataformas de entrega, numa tentativa de reconquistar esse grupo que \”marçalizou\” politicamente, ou seja, que se aproximou eleitoralmente de Marçal.
A atuação de Boulos tem sido recebida de forma positiva por líderes dos motoboys, que consideram sua abordagem mais aberta e atualizada em relação aos desafios do trabalho por aplicativo, diferente da visão tradicional dos sindicatos. Essa mudança representa uma estratégia para o PSol e para o governo Lula se aproximarem de uma categoria que se mostrou politicamente dispersa, inclusive com apoio a candidaturas mais alinhadas com a direita nas recentes eleições municipais em São Paulo. Além disso, Boulos articula essa política em conjunto com o Ministério do Trabalho e outras instituições para formalizar avanços na regulamentação e direitos desses trabalhadores.
Em São Paulo, essa mobilização também envolve pressão contra decretos municipais que proibiram o mototáxi por aplicativo, campo em que líderes dos motoboys têm enfrentado o governo local. Parlamentares da esquerda, como membros do PSol, vêm atuando ao lado de políticos de outras vertentes, inclusive bolsonaristas, na defesa da livre atividade dos motoboys.
O contexto atual revela um cenário de intensa negociação e busca por apoio em uma categoria que tem crescido significativamente na última década. O trabalho em aplicativos, que inclui entregas de comida, compras e outros serviços, gerou uma nova ocupação informal que, embora altamente flexível, carece de proteção legal e direitos trabalhistas adequados. O envolvimento de Boulos com os motoboys pode ser visto como uma tentativa de reverter o quadro de descontentamento que alguns grupos dessa classe expressaram nas eleições passadas.
Além das questões específicas relacionadas aos motoboys, Boulos também pretende abordar outros temas que afetam os trabalhadores informais, como segurança social, direitos de saúde e a necessidade de uma regulamentação clara que beneficie esse segmento. O desafio será encontrar um equilíbrio que satisfaça tanto os interesses dos trabalhadores quanto as exigências do novo governo.
A aproximação de Boulos com os motoboys poderá ainda ajudar a consolidar uma base de apoio mais ampla para o PSol em São Paulo, onde a sigla tem buscado expandir sua influência política. Ciente da importância desse grupo na configuração futura das eleições, Boulos parece estar investindo empenho e tempo para estabelecer uma relação de confiança e diálogo com esses trabalhadores.
O ministro já anunciou uma série de reuniões marcadas com representantes dos motoboys, onde pretende ouvir as principais demandas da categoria. A expectativa é que essas conversas tragam propostas concretas que possam ser implementadas em políticas públicas efetivas, garantindo não apenas a proteção dos direitos dos motoboys, mas também a valorização de sua profissão diante da crescente importância economicamente e socialmente desses trabalhadores na sociedade contemporânea.
Por fim, a estratégia de Boulos pode ser vista como uma resposta a um apelo por renovação da política, particularmente dentro do espectro da esquerda, que busca se reconectar com suas bases em um mundo que tem testemunhado a ascensão de novos movimentos e demandas. O desenvolvimento dessa relação será observado com atenção, tanto por apoiadores quanto opositores, em um contexto eleitoral cada vez mais dinâmico e fragmentado.