
Michelle Bolsonaro emergiu como uma força política formidável dentro do espectro da direita no Brasil, estabelecendo-se como uma figura-chave cuja influência se estende além de seu papel como ex-primeira-dama. Sua trajetória política e posicionamento estratégico tornaram-se fonte de tensões internas no círculo político de Bolsonaro, especialmente com seus filhos.
Michelle consolidou sua posição como uma das principais lideranças da direita brasileira através de um trabalho articulado e uma presença estratégica junto a segmentos eleitorais cruciais. Como presidente nacional do PL Mulher, ela foi responsável por um crescimento de 930% no número de mulheres filiadas ao partido em 2024, além de ter contribuído para a eleição recorde de 995 mandatárias municipais. Sua estratégia combina produção de livros, palestras motivacionais e reuniões religiosas com debate político, permitindo-lhe abordar temas políticos de modo pragmático e conectado às necessidades cotidianas das mulheres.
A força de Michelle reside especialmente em sua conexão com eleitores evangélicos, um dos segmentos mais fiéis ao bolsonarismo e que mantém um crescimento contínuo. Essa base eleitoral confere a ela um papel estratégico dentro da direita, tornando-o uma figura cujo apoio é fundamental para qualquer candidatura conservadora.
PESQUISAS INDICAM que Michelle se consolidou como a principal sucessora política do ex-presidente. De acordo com levantamento do Instituto Gerp realizado entre 1º e 5 de novembro de 2025, a ex-primeira-dama alcança 30% das intenções de voto no primeiro turno e aparece em empate técnico com Lula no segundo turno, com 47% a 44%. Esses números reforçam sua posição como uma jogadora cada vez mais poderosa dentro do espectro político da direita.
Apesar de seu crescimento político, Michelle enfrenta resistências significativas. Em recente conflito dentro do PL, particularmente envolvendo os filhos de Bolsonaro, revelou-se uma dificuldade enorme sobre a possibilidade de Michelle disputar um cargo majoritário em 2026, seja como vice-presidente ou candidata à presidência. Essa dificuldade aumentou após um desentendimento sobre a candidatura ao governo do Ceará, onde Michelle declarou apoio a Eduardo Girão, enquanto o partido e os filhos de Bolsonaro apoiavam Ciro Gomes.
O analista de política Cristiano Noronha caracterizou esse episódio como não sendo uma \”desavença simples\”, mas como um indicativo da dificuldade do grupo em administrar lideranças, prioridades e alianças. A forma como Michelle se dirigiu aos filhos durante essas discussões foi considerada \”autoritária e constrangedora\”, gerando tensões ainda mais intensas quando outros membros da família se manifestaram.
A situação de Michelle ilustra um desafio mais amplo enfrentado pela direita brasileira em 2026: apesar de chegar com força eleitoral, o campo conservador lida com dificuldades internas em administrar suas lideranças. Uma crítica contundente dos filhos a Michelle, se não for bem gerenciada, pode provocar desgastes para a família e até para o candidato apoiado por Bolsonaro.
Embora tenha havido reconciliação formal — com Flávio Bolsonaro pedindo desculpas a Michelle e ambos acordando em tomar decisões em conjunto — a dinâmica revela que o papel crescente de Michelle e sua autonomia política geram desconforto dentro da estrutura familiar que historicamente dominou a política de direita no país.



