
A prisão do presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), deputado Rodrigo Bacellar (União Brasil), em 3 de dezembro de 2025, é um marco relevante no cenário político e jurídico brasileiro, especialmente no contexto das investigações sobre corrupção, crime organizado e a atuação de agentes públicos no Rio de Janeiro.
A prisão foi realizada pela Polícia Federal (PF) no âmbito da Operação Unha e Carne, que investiga o vazamento de informações sigilosas relacionadas à Operação Zargun — ação que culminou na prisão do deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva (TH Joias, MDB), em setembro de 2025. TH Joias foi acusado de utilizar seu cargo para favorecer ações criminosas da facção Comando Vermelho (CV), incluindo tráfico de drogas e armas.
Rodrigo Bacellar foi preso preventivamente sob suspeita de vazar dados sigilosos sobre a operação policial, o que teria permitido que TH Joias escapasse temporariamente da prisão, sendo detido horas depois em um condomínio de alto padrão na Barra da Tijuca. A PF aponta que Bacellar atuou ativamente para obstruir investigações contra o crime organizado, inclusive com influência no Poder Executivo estadual.
A base legal da prisão foi fundamentada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no contexto da ADPF das Favelas (ADPF 635), que autorizou a PF a investigar a atuação de grupos criminosos violentos no Rio de Janeiro e suas conexões com agentes públicos. Foram expedidos: 1 mandado de prisão preventiva; 8 mandados de busca e apreensão; e 1 mandado de intimação para medidas cautelares.
A decisão do ministro do STF destaca a gravidade dos fatos, indicando que Bacellar teria atuado para potencializar o risco de continuidade delitiva e interferir indevidamente nas investigações, o que justifica a prisão preventiva como medida de garantia da ordem pública e da instrução criminal.
A prisão de Bacellar tem implicações diretas no cenário político do Rio de Janeiro. Ele é o segundo presidente da Alerj preso em exercício do cargo, após Jorge Picciani, preso em 2017 na Operação Cadeia Velha. Bacellar foi reeleito presidente da Alerj em 2025 por unanimidade, o que torna o episódio ainda mais simbólico e impactante para a institucionalidade da Casa.
Esse caso reforça o debate sobre a integração entre política e crime organizado, especialmente em estados com forte presença de facções criminosas. A prisão também pode gerar instabilidade na liderança da Alerj, exigindo a convocação de novas eleições para a presidência da Casa, além de possíveis repercussões no governo estadual, dada a influência de Bacellar no Poder Executivo.
Em termos de consequências sociais e institucionais, o episódio reacende o debate sobre a necessidade de reformas políticas e judiciais para combater a corrupção e a impunidade. A prisão de um presidente de assembleia legislativa por suspeita de obstrução de justiça e ligação com o crime organizado pode afetar a credibilidade das instituições democráticas junto à população.
Por outro lado, a ação da PF é vista como um sinal de que o Estado está disposto a investigar e punir agentes públicos envolvidos em atividades ilícitas, mesmo que ocupem cargos de alta relevância.
A prisão de Rodrigo Bacellar é, portanto, um marco no combate à corrupção e ao crime organizado no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro. O caso demonstra a complexidade das relações entre política, justiça e segurança pública, além de evidenciar os desafios enfrentados pelo sistema democrático diante da atuação de agentes públicos envolvidos em atividades criminosas. As consequências políticas, jurídicas e sociais desse acontecimento certamente continuarão a ser debatidas nos próximos meses, influenciando tanto a agenda legislativa quanto o debate público sobre ética e transparência na política brasileira.



