POLÍTICA

O que revela o novo mapa do crime do Rio de Janeiro

O novo Mapa Histórico dos Grupos Armados do Rio de Janeiro, divulgado em dezembro de 2025 pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni/UFF) e pelo Instituto Fogo Cruzado (IFC), revela uma reconfiguração profunda do território fluminense no controle do crime organizado.

Principais Mudanças no Cenário Criminoso

Avanço do Comando Vermelho

O Comando Vermelho (CV) expandiu significativamente seu domínio, apresentando um crescimento de mais de 130% na área controlada desde 2007. Essa expansão marca uma transformação histórica, pois o CV avançou para regiões que tradicionalmente eram consideradas inexpugnáveis, como a Zona Oeste, historicamente dominada por milícias.

Recuo das Milícias

Após anos de expansão desenfreada, as milícias enfrentaram um enfraquecimento considerável. A perda de hegemonia na Zona Oeste foi acelerada por prisões de milicianos e disputas territoriais. Porém, o recuo ocorre a partir de um patamar historicamente elevado, mantendo a região ainda muito mais dominada do que em momentos anteriores da série.

TCP como Terceira Força

O Terceiro Comando Puro (TCP) se consolidou como a terceira força no mapa do crime do Rio de Janeiro, beneficiando-se do espaço deixado pelo recuo miliciano.

Mudança de Estratégia do Crime Organizado

O estudo identifica uma transformação crucial nas estratégias de crescimento: a transição de \”colonização\” para \”conquista\”. Na fase de colonização, grupos se expandiam silenciosamente para áreas ainda não dominadas. Atualmente, para crescer, as facções precisam conquistar territórios já ocupados através do confronto direto.

As milícias tendem a crescer em zonas onde a cidade ainda está sendo construída—loteamentos irregulares e novos vetores de expansão—enquanto as facções avançam em territórios já consolidados, com alta densidade populacional e maior circulação econômica.

Impacto na População

Aproximadamente 4 milhões de moradores da Região Metropolitana do Rio de Janeiro vivem sob controle ou influência do crime organizado. Na capital especificamente, 31,6% da área urbanizada e 42,4% da população estão sob controle ou influência criminosa, sendo que 22,5% do território e 36,3% dos moradores vivem sob domínio direto.

Metodologia e Dados

O mapeamento analisou o período entre 2007 e 2024, utilizando mais de 700 mil denúncias, checagem jornalística e modelos estatísticos para mapear controle e influência em mais de 20 municípios da Região Metropolitana.

Contexto Socioeconômico

O estudo destaca que a expansão do crime organizado está diretamente vinculada à desigualdade social: áreas dominadas possuem renda média até três vezes menor do que regiões livres e concentram maior proporção de moradores não brancos.

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