MEIO AMBIENTE

Dois em cada três habitantes de favelas moram em vias sem árvores

Praticamente dois em cada três habitantes de favelas brasileiras (64% a 64,6%) vivem em vias públicas sem nenhuma árvore, segundo dados do Censo 2022 divulgado pelo IBGE. Essa condição é significativamente pior do que em áreas fora das favelas, onde apenas 31% da população vivem em trechos de ruas sem árvores. Essa realidade tem gerado preocupação sobre as condições de vida nas comunidades carentes, visto que o total de pessoas vivendo nessas condições ultrapassa 10 milhões dentro das favelas.

As medições realizadas pelo IBGE consideraram árvores de pelo menos 1,7 metro de altura em vias públicas, incluindo becos, vielas e escadarias, mas não a vegetação dentro de quintais ou residências. Este critério revela a escassez de arborização em muitos dos percursos que os moradores utilizam diariamente, impactando diretamente na saúde e no bem-estar da população.

Entre as maiores favelas do Brasil, a heterogeneidade na presença de árvores é evidente. Por exemplo, no Rio das Pedras, localizado no Rio de Janeiro, apenas 3,5% da população tem árvores em frente de casa. Em contraste, em Sol Nascente, no Distrito Federal, esse índice alcança cerca de 70%. Esses dados evidenciam as disparidades na qualidade do ambiente urbano, que podem influenciar na sensação de conforto térmico e na qualidade do ar respirado pelas comunidades.

A alta incidência de ruas sem árvores não apenas traz impactos visuais, mas também afeta questões relacionadas ao clima. A ausência de vegetação está associada ao aumento de ilhas de calor e à diminuição da umidade do ar, problemas que podem agravar a saúde pública. Esses fatores têm sido fontes de preocupação, principalmente em tempos de temperaturas elevadas e eventos climáticos extremos, que se tornaram cada vez mais comuns.

Além disso, a falta de áreas verdes tem impacto no bem-estar social dos moradores. Espaços com vegetação não apenas servem como locais para lazer e atividades de convivência mas também promovem a formação de comunidades mais coesas e saudáveis. Conforme especialistas, a urbanização deve ser pautada por princípios de sustentabilidade e inclusão, enfatizando a importância de soluções que integrem mais áreas verdes nas comunidades carentes.

Recentemente, iniciativas têm surgido com o intuito de reverter essa realidade. Projetos de arborização urbana estão sendo implementados por organizações não governamentais e em parcerias com prefeituras, com o objetivo de promover a reflorestação de áreas devastadas e de incentivar a comunidade a cuidar e manter esses espaços. Essas ações são essenciais para restaurar o equilíbrio ambiental e proporcionar uma vida melhor para os habitantes das favelas.

Com a visão de construir um futuro mais sustentável, é fundamental que políticas públicas também estejam alinhadas à criação de infraestruturas que suportem a presença de árvores e áreas verdes em localidades tradicionalmente negligenciadas. Promover a inclusão de espaços naturais nas favelas não só contribui para a melhoria da qualidade de vida, mas também para a preservação do meio ambiente.

Por fim, as disparidades observadas entre as áreas urbanas revela a necessidade de um olhar mais atento sobre as favelas, levando em consideração as vozes e reivindicações de seus moradores. A construção de cidades mais verdes e justas, com mais atenção à qualidade do ambiente urbano, é uma responsabilidade que deve ser assumida por todos os segmentos da sociedade. A luta pela arborização das favelas é, indiscutivelmente, uma luta por dignidade e igualdade.

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