
O dossiê intitulado “O lugar das mulheres pretas na construção de Brasília nas décadas de 70, 80 e 90” apresenta um importante registro sobre a vida de mulheres negras que se mudaram para a nova capital do Brasil durante sua fundação. Este material, que reúne relatos de sete mulheres que viveram e participaram ativamente da construção de Brasília, evidencia não apenas suas experiências pessoais, mas também a luta coletiva por direitos e reconhecimento em um contexto de segregação e exclusão.
Entre as protagonistas do dossiê estão figuras emblemáticas, como Jacira da Silva, uma jornalista que se destacou ao participar da elaboração da Constituição Federal de 1988, e Maria Luiza Júnior, que foi uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado no Distrito Federal. Cristina Guimarães, assistente social, também é mencionada, contribuindo com suas vivências e luta por políticas públicas que visassem a igualdade e a justiça social. Essas narrativas sublinham o protagonismo das mulheres negras em um período crítico da história brasileira, onde a luta por direitos era interrompida por um ambiente hostil e discriminatório.
A iniciativa para compilar este dossiê partiu do Núcleo de Arte do Centro-Oeste, sob a coordenação de Paloma Elizabeth Morales Arteaga. O trabalho incluiu pesquisas de documentos históricos e foi impulsionado pela necessidade de trazer à tona uma perspectiva frequentemente marginalizada nas narrativas históricas sobre a constituição de Brasília e a redemocratização do país. Ao revisitar registros do Arquivo Público do Distrito Federal, o dossiê não apenas documenta a história dessas mulheres, mas também ilumina suas contribuições significativas para o desenvolvimento social e político da capital federal.
Essas histórias são particularmente relevantes em um momento em que o Brasil enfrenta novas discussões sobre raça, igualdade e direitos humanos. O dossiê, ao resgatar essas memórias, revela a continuidade das lutas e a resiliência das mulheres negras diante das adversidades. É um reconhecimento necessário da importância dessas vozes que, durante a construção de uma nova cidade, enfrentaram não só preconceitos raciais, mas também as desigualdades sociais que perpetuam até hoje.
Através dos relatos contidos no dossiê, fica evidente que as mulheres negras não foram apenas espectadores, mas agentes ativos na formação de Brasília. Elas impuseram suas narrativas e experiências em meio a uma sociedade que frequentemente as silenciava, criando um legado de resistência que ainda ressoa nas lutas contemporâneas por justiça e igualdade.
Além disso, o dossiê traz à tona a importância da memória coletiva e da valorização das experiências das mulheres negras dentro do movimento social brasileiro. Ao compilar essas histórias, o documento atua como um recurso essencial para pesquisadores, educadores e qualquer pessoa interessada em entender a complexidade da formação da sociedade brasileira e as diversas influências que moldaram a capital do país.
Em conclusão, o dossiê “O lugar das mulheres pretas na construção de Brasília nas décadas de 70, 80 e 90” não é apenas uma contribuição para a história de Brasília, mas também um chamado à reflexão sobre as desigualdades que persistem. Ele provoca uma reconsideração das narrativas oficiais e um reconhecimento das lutas e conquistas das mulheres negras, que muitas vezes ficam à margem das histórias que se conta sobre o Brasil.
Com isso, é fundamental que continuemos a honrar e a ouvir essas vozes. O dossiê representa um passo significativo nessa direção, trazendo a público as experiências de mulheres que, apesar de todas as barreiras, continuam a lutar por um futuro mais justo e igualitário para todos.



